Sejam Bem Vindos!

Participação Solidária pretende divulgar algumas "Memórias com história(s)" mas também ser um lugar de reflexão. Este Blog germina nos bons exemplos deixados pelo boletim "Participação Solidária" de que muitos certamente se lembrarão. Estaremos sempre abertos a sugestões, usem e abusem do nosso endereço de correio electrónico!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Será que é preciso uma outra vontade?


Deixando-nos transportar até ao dia de hoje, recordamos que definimos como compromisso fundamental da tendência o envolvimento de todos na procura de soluções e respostas para os desafios que se nos colocam.

Norteados pelos valores da solidariedade, comprometemo-nos a promover acções de sensibilização junto dos colegas com vista ao aumento do número de sindicalizados, e ao exercício de uma participação activa nas actividades que possam contribuir para um melhor cumprimento das várias missões do sindicato.

Qual a importância deste compromisso? Que efeitos práticos pode ter?

Fiquemos com estas pequenas passagens de dois filmes enquanto procuramos resposta a estas perguntas:

Network - "I'm as mad as hell"


"NORMA RAE"




Será que uma atitude proactiva tem assim tanta influência? Será que é preciso uma outra vontade?

Tempos Modernos

Nem tudo tem de ser dito de forma séria e sorumbática deliciemo-nos um pouco com o génio de Charlie Chaplin, em TEMPOS MODERNOS :




E não são maravilhosas estas máquinas que nos alimentam?




Quando será que vamos colocar a tecnologia verdadeiramente ao nosso serviço?

I W W - Industrial Workers of the World


The IWW ou "Wobblies" - Industrial Workers of the World (Trabalhadores Industriais do Mundo) é uma Associação Sindical Internacional fundada em 1905 que integra socialistas revolucionários e anarquistas, defendendo a democracia laboral e autogestão dos trabalhadores.

Os seus anos de maior notoriedade e influência vão de 1905, até que em 1920 foram fortemente reprimidos pelo estado destacando-se a repressão sobre os membros estrangeiros da organização conhecidos como "Palmer Raids" .

Ressurgiu décadas depois, nos anos de 1960, e tem experimentado um importante crescimento no séc. XXI


Movimento Operário em Portugal - Sindicalismo Revolucionário

O Que pretendiam os trabalhadores de Chicago nas palavras de Samuel Gompers?


Em Maio de 1886, é decretada uma greve geral nos EUA com milhares de trabalhadores a manifestarem-se nas ruas de Chicago, reinvindicando a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. No decurso destas manifestações sucederam-se vários confrontos com a polícia que disparou sobre os trabalhadores matando vários manifestantes no dia 3 e mais doze no dia 4 provocando ainda dezenas de feridos.


 


É no caldeirão destes acontecimentos conhecidos como a Revolta de Haymarket conjuntamente com as dificuldades vividas e a inspiração da “Comuna de Paris” que nasce uma nova corrente ideológica e de acção o sindicalismo revolucionário ou anarco-sindicalismo, com grande influência no movimento de trabalhadores tanto em França como na Península Ibérica.

Três anos mais tarde, a 20 de Junho de 1889, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu, por proposta de Raymond Lavigne, convocar anualmente uma manifestação com o objectivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o dia 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago.

Em 1 de Maio de 1891 uma manifestação no norte de França é dispersada pela polícia resultando na morte de dez manifestantes. Esse novo drama serve para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional Socialista em Bruxelas proclama esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais.

A Internacional (L'Internationale-a letra original escrita em francês em 1871 por Eugène Pottier e musicada por Pierre De Geyter em 1888) , tornou-se o hino do socialismo internacional revolucionário.




Sendo uma das canções mais conhecidas de todo o mundo dela se fizeram multiplas versões que podem ser encontradas aqui: http://www.antiwarsongs.org/canzone.php?id=2003&lang=en 
ou em http://www.hymn.ru/internationale/index-en.html

Movimento Operário em Portugal - Influência da Comuna de Paris


Com a Comuna de Paris em 1871 e a conquista do poder pelo proletariado francês durante 72 dias e as tão significativas alterações que se fizeram sentir em tão curto espaço de tempo, deu-se uma profunda transformação no movimento operário à escala mundial, e que teve os seus reflexos também em Portugal nomeadamente uma mudança de objectivos que passsam agora a ser o derrube do capitalismo e a construção de uma sociedade nova.

É também em 1871 que os trabalhadores portugueses aderem à AIT – Associação Internacional dos Trabalhadores – a Internacional – fundada em 1864. O objectivo das associações de trabalhadores já não são apenas mutualistas mas têm também o propósito do trabalho de propaganda e de consciêncialização dos trabalhadores.

Em 1873 é constituída a “Associação dos Trabalhadores da Região Portuguesa” com objectivos de classe bem marcados e intensificados pelo aumento do crescimento urbano e pelo agudizar das contradições sociais o que acabou por significar o esvaziamento do “Centro Promotor“ uma vez que a classe operária já não se revia na conciliação de classes.

Em 1891 é reconhecida personalidade juridica às associações de trabalhadores que se multiplicam com forte influência dos anarquistas. É também neste ano que é criada a Federação de Associações de Classe, primeiro passo para a unidade orgânica dos trabalhadores.
Mas que o fazia com que os trabalhadores se multiplicassem em esforços para se organizarem em associações que defendessem os seus direitos?

Vejamos este pequeno filme sobre as condições de trabalho nos Estados Unidos,  uma viagem musical pelas razões para ser sindicalizado ao tempo.
(este video permite a facilidade do youtube de transcrever audio)


Labor History Part I 

Labor History Part II    

Labor History Part III 

Movimento Operário em Portugal - A exemplo da Austrália, 8 horas de trabalho


A 21 de Abril de 1856, na sequência de negociações com comerciantes e empreiteiros de construção, e com a aprovação do governo colonial, foi instituído um dia de oito horas de trabalho no sector da construção civil, em Melbourne.


O movimento foi liderado pelos pedreiros que argumentavam que oito horas de trabalho por dia era o apropriado, dado o calor da Austrália, além de lhes dar tempo para melhorar a sua "condição social e moral".


Empregadores com grandes contratos para edifícios públicos resistiram ao acordo, mas os pedreiros organizaram uma marcha de protesto juntando outros trabalhadores da construção civil pelo caminho, ao fim de 15 dias os empreiteiros tinham cedido à jornada de trabalho de 8 horas sem perda de remuneração ou de outras condições.


Os trabalhadores da construção tinham alcançado uma vitória sem precedentes, generalizada e sustentável!


A sua conquista estabeleceu um padrão nacional e internacional a que todos os trabalhadores do mundo passaram a aspirar e valeu à Austrália a designação de paraíso operário.

No entanto de início apenas uma minoria de trabalhadores conseguiu um dia de trabalho de 8 horas, a maioria incluindo mulheres e crianças trabalhava mais horas por menos dinheiro. Era comum uma jornada de trabalho de 12 a 16 horas por dia.

Movimento Operário em Portugal - Os princípios mutualistas

Na análise do percurso histórico do movimento sindical português, desde as organizações mutualistas, de carácter quase corporativo, até aos nossos dias, em que múltiplas correntes, tendências e até organizações coabitam no espaço do movimento sindical, não se pode nunca perder do horizonte que os sindicatos “têm como função defender os interesses sócio-laborais dos trabalhadores, interesses permanentemente postos em causa pelo patronato” (Abrantes, 1995)[1], pois só desta forma será possível interpretar um conjunto vastíssimo de dados que povoam a já longa historia do movimento sindical português.


Só em 1821 se viria a reconhecer (ainda que provisoriamente) a liberdade de organização em associações aos trabalhadores portugueses. A primeira associação só surgirá em 1838, em Lisboa, a “Sociedade dos Artistas Lisbonenses” que tinha como objectivos “Socorrer na doença as viúvas e órfãos com pensões e sustentar uma aula de instrução primária”. Apresentando-se claramente com uma função de esbatimento de algumas contradições e injustiças do sistema, e ainda não com cariz reivindicativo.


Em parte com base na estrutura da “Sociedade dos Artistas Lisbonenses” Em 1852 viria a nascer, também em Lisboa, o “Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas” que tinha na sua concepção os princípios do mutualismo e da conciliação de classe. Este ideário de feição socialista utópico viria mesmo a dominar as mais variadas organizações de trabalhadores portuguesas onde a orientação dominante apontava o caminho da mobilidade social pelo trabalho e o respeito interclassista apontando para o dever da protecção fraterna dos mais pobres.


[1] Abrantes, Domingos (1995) “Movimento Sindical. Organização Necessária e Indispensável” - Vértice

Participação Solidária: Movimento Operário em Portugal - O início

Participação Solidária: Movimento Operário em Portugal - O início

Movimento Operário em Portugal - O início

Será certamente interessante iniciar  as nossas "Memórias com história(s)" pelos factos que nos fazem hoje ser Sindicalistas e Solidários, percursos da nossa história nem sempre lineares mas certamente interessantes e dignos de reflexão.

Remontemos às origens do movimento operário e à situação económica portuguesa à época numa tentativa de contextualização:


Historicamente, a existência de movimento operário está ligada à existência de proletariado e este ganha mais peso com um avançado estado de industrialização, não será pois de estranhar que tenha sido nos países mais industrializados que o movimento operário tenha ganho maior expressão.



E em Portugal?
A industrialização em Portugal foi tardia, com uma enorme dependência económica de Inglaterra em boa parte devida ao Tratado de Methuen de 1703[1], que viria a impedir qualquer tentativa séria de arranque industrial, dado o estrangulamento económico que os ingleses nos impunham ao inundarem o nosso mercado com os seus produtos, em particular, os têxteis. Situação económica, essa, que se agravou quando a coroa portuguesa decidiu pôr fim ao monopólio sobre os portos brasileiros e abri-los aos ingleses.


[1] " Pelos seus termos, os portugueses se comprometiam a consumir os têxteis britânicos e, em contrapartida, os britânicos, os vinhos de Portugal." http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Methuen#cite_note-0